16 maio 2007

:: rock + café + tablóides = algumas lembranças ::

Ser um dos últimos integrantes dos Beatles vivo é uma complicação só.... não tanto pela pressão artística da mídia e fãs, mas muitas vezes pelo desrespeito com que sua obra é tratada.... desde a metade de 2005 até o começo de 2007, Paul McCartney estampa freqüentemente noticias de sites e jornais sobre os mais variados assuntos e fofocas, quem reverberam em seus discos e produções...

As notícias são as mais bizarras... sites de buscas apontam manchetes como “Paul McCartney quer proibir ex-esposa de falar em público”, “Macca sai com antiga namorada de Príncipe Charles”, “Ex-Esposa de Paul McCartney dançará em programa de tv” (!)... e dividem espaço com as bebedeiras de Paris Hilton, a careca de Britney, as bizarrices de Michael Jackson.... o gancho destas fofocas para o trabalho dele são com declarações do tipo “A música ajudou McCartney a superar o divórcio”... qualé?

Já faz um ano que Macca e sua ex-esposa, Heather Mills anunciaram a separação. Ela uma ex-modelo que perdeu a perna no início dos anos 90... ele uma figura que entra sem pedir licença nas casas de todas as pessoas e era exemplo de bom marido e companheiro, em conseqüência de seu longo casamento com a querida Linda McCartney, até sua morte em 1998... terrivelmente amado na Inglaterra...

O processo de divórcio trouxe (e ainda traz) algumas declarações de abusos físicos e maus-tratos sofridos por Mills durante o casamento, deixando tablóides loucos de alegria e Macca extremamente irritado....

Na época do divórcio o ex-beatle vivia uma excelente fase artística, com o lançamento do disco “Chaos and Creation in The Backyard”, lançado em 2006, produzido pelo hypado Nigel Godrich e que apresenta um distinto senhor ligado em sonoridades mais novas, adaptadas ao costumeiro trabalho solo que o acompanha desde a criação da banda Wings, nos anos 70... (Macca tocou e arranjou quase todos os instrumentos utilizados no disco...)

Agora, novamente a avalanche de notícias sobre ele retorna à mídia, com os mais diferentes temas e, graças à falta de assunto, sem muitas linhas dedicadas a sua vida pessoal....

Dia 4 de junho sai seu 21º disco, “Memory Almost Full”, que começou a ser produzido antes mesmo de “Chaos and...” mas finalizado este ano. Três dias antes, em 1º de junho, um dos clássicos absolutos da carreira dos Beatles e de toda a história da música pop, o álbum “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band” faz aniversário de 40 anos... e as festas prometem...

Para completar, “Memory...” é o primeiro disco de Macca fora da Capitol Records, que o acompanha desde os áureos tempos do fab four... ele estréia o selo HearMusic, criado pela rede de cafés Starbucks (a princípio o selo seria chamado de “Starbucks Records”)... prometendo ser uma das maiores sacadas de marketing musical dos últimos anos, e rendendo mais alguns milhões para sua fortuna... em contrapartida a antiga gravadora se prepara para relançar toda sua obra solo, e também disponibilizar as faixas para vendas virtuais...

A edição deste mês da revista Uncut estampa o jovem McCartney na capa, com uma declaração em letras garrafais “Eu queria esquecer os Beatles e começar de novo...” mas calma, esse papo ai é sobre o frustrado projeto que veio logo após a separação do quarteto, a banda Wings, que quase ninguém se lembra ou conhece seus detalhes.... “eu queria deixar de ser grande nos Beatles e experimentar o início novamente.... era como se eu estivesse deixando um emprego bacana para trabalhar nas ruas”.... foi dada a largada para todas as pautas e enfoques possíveis em cima de Paul McCartney... aguardem...

O nome “Memory Almost Full” já dá para tirar algumas conclusões sobre o passado recente de Macca... ainda mais depois de ouvir um dos primeiros singles do disco, a música “Ever Present Past”. Enquanto isso o primeiro vídeo do disco já saiu, a faixa é a “Dance Tonight” e foi exibida pela primeira vez no You Tube, dia 09 de maio... ironicamente eu não a encontrei para linkar aqui... só o vídeo de 30 segundos de divulgação, que não rola né? Portanto vai o clip “fotográfico” de “Ever Present Past”




:: trecho da Combo desta semana, que ainda vem com Heitor e Banda Gentileza, The Go! Team e Stella-Viva... ::

11 maio 2007

:: Meninas do Brasil ::

Pense rápido... qual é a grande surpresa da MPB hoje? O que é novidade... está tocando por ai direto... que todos estejam comentando? MPB... não rock, emo, hard core... Desde a semana passada eu procurei por algumas respostas... todos os nomes que me vinham a mente eram de artistas que tocavam projetos legais e diferentes, mas com 5 ou 6 anos de estrada... novo, novo, nada....

Wado, Curumim, Mombojó, Eddie, Max de Castro, Otto, BiD, Seu Jorge, Orquestra Imperial e vários outros.... já tem suas figuras inseridas no repertório de reconhecimento popular.. pelo menos os nomes, não sei as músicas...

Tá, essa questão toda começou com o fim dos Los Hermanos.... eles foram um dos poucos grupos que conseguiu fazer sucesso relativo, com um trabalho de qualidade e fãs entre roqueiros, o pessoal do samba e MPB....

O começo do milênio ficou marcado por jovens artistas que entoavam antigos coros, mas com nova roupagem... Uso de levadas eletrônicas e arranjos mais contemporâneos para ilustrar rodas de samba que acabou fazendo mais sucesso entre os gringos, do que brasileiros.... as novidades musicais estão pegando fogo, mas não chegam ao quintal de casa...

Alguns já são celebridades lá fora... outros começam a esboçar passagens além de nossas fronteiras... notícias, artigos e críticas em jornais e revistas estrangeiras exaltam a nova fase da música brasileira... você notou alguma mudança? As jovens cantoras Céu, Roberta Sá, Cibelle e Mariana Aydar são usadas como personagens desta nova fase.... conhece elas? Não precisa muita coisa, basta gogglear estes nomes que você pode encontrar uma série de textos falando sobre estas novas vozes femininas...

Condensam de maneira única a experimentação eletrônica do samba e MPB feita no nordeste, com o resgate das rodas de samba e choro no Rio de Janeiro. São econômicas, profundas pesquisadoras de sons e simpáticas...a maioria delas lançou seus primeiros trabalhos entre 2005 e 2006, e hoje colhem os frutos lá fora... Se você quiser acompanhar esta nova fase da MPB, solte o inglês e comece a pensar como gringo...

O lançamento mais recente entre as meninas é o disco “Kavita 1” da cantora paulistana Mariana Aydar lançado em outrubro de 2006... ganhou certo destaque em sua terra por dar nova cara a “Deixa o Verão”, composição de Rodrigo Amarante dos Los Hermanos... você já deve ter escutado...

Aydar (re)descobriu a música brasileira enquanto vivia em Paris... antes ela tinha sido cantora de forró (do bom!) e usufruía de um berço de ouro, com a produtora musical e mãe Bia Aydar, e o músico e compositor do Premeditando o Breque, Música Ligeira, e pai... Mario Manga.

Foi em Paris que ela notou o respeito e a diversidade musical tupiniquim... lá conheceu Seu Jorge que a chamou para abrir alguns de seus shows, e o resto é história....

“Kavita 1” traz uma série de interpretações dela para pérolas compostas por João Donato (“Vento no Canavial”), João Nogueira e Paulo César Pinheiro (“Minha Missão “), Leci Brandão (“Zé do Caroço”), Chico César (“Prainha”) entre outros. A própria Mariana aparece dividindo a autoria da ótima “Festança” junto com o músico Duani que acaba transformando a composição em uma pequena visita e “homenagem” ao trabalho de Antônio Carlos e Jocafi... ótimo.... O disco tem produção impecável de BiD, que soube “sentir” nas faixas os elementos contemporâneos musicais bem inusitados... desde um simples slide de guitarra no meio de uma batucada, até samples e mixagens sem exageros... bem colocados e sentidos...

No último final de semana (4, 5 e 6 de maio), em pleno aniversário de morte de Noel Rosa, ela apresentou um espetáculo com uma série de convidados em São Paulo... Eu poderia linkar aqui o vídeo clipe com a versão de “Deixa o Verão” do Los Hermanos... mas essa gravação de Aydar cantando “Zé do Caroço” ao lado de Leci Brandão, uma das ilustres convidadas destes shows, já fala por si só...




...e os gringos estão bem servidos...


(::: trecho da coluna Combo desta semana, que ainda vem com Homem-Aranha 3, Lobão "Acústico", Justin Timberlake... :::)

06 maio 2007

coooombo

buenas...

Parte do conteúdo da quarta edição da Combo (minha coluna no descubra curitiba)... textinho sobre o Charme Chulo e Supercordas...

:: plantas e lamentos nas caixas de som ::

Mesmo que o tema “rural” esteja presente no conceito destas duas bandas, elas não tem nada a ver... a não ser a pegada pop. Os curitibanos do Charme Chulo vêm rascunhando desde 2004 um relativo reconhecimento, enquanto os cariocas do Supercordas já trilham diferentes caminhos... de terra.

Lembro que a primeira vez que assisti um show do Charme Chulo, no Festival De Inverno de 2004 (não tenho certeza... aquele que foi no Cine), achei interessante as levadas da viola, porém a banda ainda se mostrava “verde” e descontínua mas....

... acaba de ser lançado seu primeiro disco, que leva o nome do grupo e mostra certa unidade no som. Aprenderam a usar a viola como o verdadeiro trunfo e por incrível que pareça chega a chamar mais atenção do que as cambaleantes e mecânicas danças que o vocalista Igor Filus despeja no palco durante as apresentações.

O disco parece traçar a chegada na grande cidade, ou o caminho inverso. O amadurecimento e seus riscos. O início carrega uma inocência explícita nas letras de “Mazzaropi Incriminado”, o hit “Polaca Azeda” e a mais que nostálgica “A Caminho das Luzes Essa Noite” (de onde veio o verso que está no título da coluna... “melancolia do néon”). Funciona em alguns aspectos, mas em outros não convence. Como na composição “Amor de Boteco” que – tenho medo que seja intencional - descamba para um sertanejo meio brega, triste, triste... Não tem como ouvir versos do tipo “Nossas diferenças se vão, no quarto ou naquele colchão”, sem lembrar de Leandro & Leonardo... (“... é que nossas diferenças se acabam no quarto, em cima da cama...”).

“Não Deixa a Vida Te Levar” já instaura uma nova fase. Desta vez a crise deixa de ser amorosa, atinge campos existenciais e a letra é uma das mais “curitibanas” do álbum. A levada oitentista se encaixa com a sanfona que surge no final... e tudo fica bem. A partir daí o clima “maduro” na forma de encarar a vida toma conta das letras, mas traz algumas referências religiosas meio aleatórias, como em “Romaria dos Desvalidos” que apesar disso tem um dos melhores arranjos do disco. Mesmo esquema de “Intriga de Cinco Pessoas” – uma das mais bacanas – que mistura os estilos na medida...





Enquanto isso Supercordas vive em um universo paralelo atemporal, verde e pegajoso… mas com as graças da Bizz, MTV, Trama e até da Capricho... (além de todo aquele bla bla bla para mostrar como a banda está boa – e realmente está)

Eu aprendi a gostar da psicodelia faz pouco tempo. Mas ainda tenho minhas ressalvas... Acho um saco viajar em cima de vários elementos inusitados espalhados por ai, só para criar uma “sensação” nova.... o Supercordas surpreende neste sentido. A viagem é conduzida pelos “seres verdes ao redor” e te convida para um colorido e sinestésico passeio pelo mato, pântano, brejo, mangue... onde existirem sapos, rãs, lagartos, “samambaias, animais rastejantes e anfíbios marcianos”

A ambiência usada em quase todas as faixas, utiliza ruídos e barulhinhos em locais inusitados... como se realmente estivéssemos em um matagal distorcido... Dica: ouça o disco no escuro, ou em uma estrada de noite... entre na onda de “Ricochete” deixe os versos “num caldeirão de esperas / de um ricochete no rio” ecoarem pelos cantos da mente enquanto entra a vinheta “Musgo” que ajuda na assimilação....depois de um longo silêncio na companhia de sapos de estúdio, vem a explosão de energia com “Frog Rock” deixando claro como “é tão bão ficar aqui...”, em uma levada let it bleediana que remete a uma das melhores fases dos Stones... mas com sotaque caipira...

Além de Stones, os Beach Boys, Doors, Mutantes e até a obscura The United States of America dão sua parcela de oxigênio a banda, que mesmo em faixas mais estereotipadas, como a “Mofo” – que lembra aqueles desenhos da Disney – surpreende.

A dualidade entre “Sobre o Frio”, que carrega um elegante pianão limpo e aflora a comodidade em estar... no frio, reforçado com o sentimento de “Sobre o Calor” (de onde surge a segunda referência no título de hoje, “cigarros como estrela”), só mostra como a banda se sente bem congelada no espaço-tempo... “pra não derreter / eu canto esta canção sobre o calor”... a volta a realidade (volta?) acontece no último respiro do coro de “Fotossíntese” que fecha o disco e lembra que “todo ser é planta artificial”...

O melhor é que o álbum “Seres Verdes ao Redor” é extremamente pop e acessível....em relação a todos esses ruídos que estão nas músicas, coloco aqui a resposta que o baixista Valentino deu em um comentário do YouTube... “a música acompanha os ruídos”....




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