23 junho 2007

:: arctic monkeys ::

Agora é a hora de falar sobre eles e poder comemorar a confirmação da apresentação do grupo no Brasil... e em Curitiba (ou “Curitaba”, como saiu no site da banda)... porque enquanto estamos no terreno das especulações, é um saco... se fosse assim o Radiohead teria feito um show por ano no país, desde o lançamento do “The Bends”...

Confirmados para outubro no Tim Festival, junto com The Killers (esses ai não merecem muita festa) e Juliette & The Licks (clap clap clap!), o Arctic Monkeys abre a sangrenta corrida por atrações de peso para os festivais do segundo semestre... “abre” é relativo, já que as negociações nos bastidores são mais sangrentas ainda.... mas já foi... ou “já é”...

É hora de sentar e olhar com calma para esse grupo com integrantes na faixa dos 21 anos, entender o hype todo e seu contexto... pensar por que diabos vale a pena assistir um show desses....

Resposta rápida: Vale...
Motivo? Hum...

Você lembra o que estava fazendo no Natal de 2001? Provavelmente se empanturrando de comida, festas, presentes, praias, bebedeiras.... Enquanto isso dois jovens ingleses que moravam no bairro High Green, subúrbio de Sheffield, começavam a articular um sonho de dominação mundial com suas recém adquiridas armas dadas pelo Papai Noel... duas guitarras. Na época os vizinhos Alex Turner e Jamie Cook tinham 15 anos, não sabiam tocar uma nota, mas queriam montar uma banda... Andy Nicholson já tocava baixo e entrou na história, junto com Matt Helder que comprou uma bateria justamente por ser o único instrumento que faltava.... a inspiração estava nos Strokes, Oasis, The Vines, Coldplay e... no hip hop (eram super fãs)

Glyn Jones foi um possível quinto elemento da formação inicial, que assumiu os vocais da banda e começou a estimular a peculiar veia compositora de Turner... mas saiu antes do sucesso, alegando falta de disciplina com o grupo.... assim o jovem caladão Alex Turner seguiu como vocal, guitarrista e o principal compositor do Arctic Monkeys (que pelo visto na época tinha o nome de Bang Bang)... A mãe de Turner é professora de piano, e seu pai professor de alemão (se eu não inverti as funções...mas os pais de todos acompanham os shows até hoje) e ele era o completo oposto desse possível símbolo sexual teen que é atualmente.... magrão, estabanado e quieto (vale reafirmar isso), trabalhava em um bar e acompanhava de perto os erros e acertos do cenário independente da região...

O grupo tem seu valor por ser um dos primeiros (e talvez únicos) nomes que são frutos assumidos da geração 2000, que chegaram ao mesmo patamar de seus ídolos (se é que não ultrapassaram... mas pensar assim é compactuar com o “hype”, arght...). Desde o início assumem uma postura cínica e irônica em relação ao sucesso, deixam claro o total desapego em todos os detalhes envolvidos na construção de um “rockstar”... desde o material de divulgação, apelo comercial, firulas nos palcos, até comentários do tipo “sou novo e tudo isso é ótimo... mas se acabar não vai fazer muita diferença... não sou velho e não tenho compromisso com contas, família...” (Turner) ou “eu não me vejo fazendo isso por muito tempo... então não vou me preocupar” (Jamie Cook tendo um surto de Mick Jagger)... comentários que vocês podem encontrar em diversas entrevistas espalhadas pelo You Tube...

...aliás, um os maiores problemas deles é com a mídia... não gostam de dar entrevistas, não são nem um pouco polidos (até com a New Musical Express, o principal responsável pelo hype) e fazem questão de carregar no sotaque do norte.... Alex Turner falando parece o Brad Pitt em “Snatch”.... mas esse comportamento com jornalistas não é de todo estranho... por exemplo, olha o que eles (Turner e Cook) já tiveram que enfrentar...



como é que ainda colocam uma coisa dessas no You Tube?!?!?

Bom... Turner reclama constantemente que a última coisa que ele quer ser é um cara “cool” (eleito até pela NME), essa negação e fuga transformam ele... em um cara cool! Público e mídia adoram essas coisas, e são alimentados por posturas assim... ainda mais com as temáticas populares, jovens e discursivas de suas letras, regadas a guitarras rápidas e urgentes.... eles conseguiram achar uma característica própria... um estilo... que foge daquele ranço encontrado em diversas bandas britânicas que por mais que sejam novas, parecem datadas e perdidas...

Desde o início foi assim... o som do Arctic Monkeys não mudou muita coisa... suas faixas demos estão perdidas pela Internet e podem ser consultadas... E esse apelo virtual também é meio mal contado... os caras não foram descobertos pelo Myspace, e muito menos o utilizaram como ferramenta de divulgação... A história é que eles distribuíam cópias de suas demos nos shows... e os fãs disponibilizavam para downloads por conta própria... aliás, a página do Myspace deles, foi criada por um fã... os integrantes do AM nem sabiam o que era isso...




- “I Bet You Look Good On The Dancefloor”, gravado no Coachella deste ano…

A faixa “I Bet You Look Good On The Dancefloor” foi o primeiro hit de sucesso deles lançado em 17 de outubro de 2005, e logo de cara bateu Sugababes e Robbie Williams quando apareceu em primeiro lugar nas paradas de sucesso britânicas, seguida por “When The Sun Goes Down”. O disco “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” foi lançado em janeiro de 2006 e bateu recordes na terra da rainha por ser o disco debut que mais vendeu em pouco tempo... quase 364 mil cópias em uma semana... Três meses depois lançaram o EP “Who The Fuck Are Arctic Monkeys?” alegando que estavam ficando entediados com as músicas de trabalho e precisavam de material novo... essa altura do campeonato eles já eram conhecidos em todo o globo, com direito a títulos de “salvadores do rock” e outras forçadas messiânicas...

No meio do caminho o baixista Andy Nicholson abandonou o grupo alegando fadiga pelas extensas turnês... quem assumiu seu posto foi outro colega de escola, Nick O’Malley que teve dois dias para pegar todas as músicas e cair na estrada em uma turnê norte-americana... Em fevereiro deste ano eles voltaram com tudo no disco “Favourite Worst Nightmare” que novamente caiu nas graças do público e crítica e conquistou em abril o primeiro lugar das paradas... com direito a ter as 12 faixas do álbum no Top 200 britânico... A fórmula das músicas é a mesma... mais pesadas e pessoais, com a pegada certa para pular dançar e gritar...

A apresentação no Brasil é imperdível... e a atenção dada a banda também é necessária, afinal a vitória deles é a mesma de um macaco que sobrevive no ártico sem árvores... (ou você achou que esse texto ia acabar sem nenhum trocadalho?)

Este texto faz parte da 8º Combo (from the Ritz to "Curitaba"), publicado dia 22/06/07 e que pode ser lido na íntegra clicando aqui

:: eu acredito em duendes ::

Quando anunciaram que “Volta”, o novo disco de Björk, vinha com algumas faixas produzidas pelo hypado Timbaland, as reações foram as mais estranhas... teve gente que adorou, quem odiou, os curiosos e claro, aqueles que não estavam nem ai...

Timbaland é o cara que todo mundo quer pagar um drink nas festas... o grande responsável pelo sucesso de Justin Timberlake, Nelly Furtado, Missy Elliot, Jay-Z, entre outros que receberam sua produção e a injeção de batidas econômicas, sincopadas e hipnóticas que revolucionaram uma bela fatia do mercado pop e do hip hop... e Björk firmou sua carreira em não ter o menor limite com suas composições, usando as vírgulas que separam o rock, pop, eletrônico, experimentalismo, como o quintal de casa... além de trabalhar com algumas figuras renomadas em diferentes gêneros... desde o arranjador carioca Eumir Deodato, Thom Yorke, Spike Jonze (diretor de “Quero Ser John Malkovich”) e Michel Gondry (diretor de “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”), para formar uma frente de trabalho que chega como uma avalanche em diferentes manifestações... nessa soma ainda entram vários colegas, parceiros e conhecidos espalhados pelo mundo que sempre dão um ar “universal” nas obras da pequena islandesa...

... e agora chegou T. Mosley, mais conhecido como Timbaland....

Confesso que quando soube que o primeiro single de “Volta” era “Earth Intruders”, fiquei decepcionado... acho um saco quando músicos levantam bandeiras ecológicas e saem por ai pregando mensagens verdes e despoluídas.... ainda mais quando anunciaram que o disco vinha mais “pop”.... mas subestimei a duende... O trabalho mantém sua conquista com letras vindas de um universo ímpar, onde elementos fantasiosos são misturados com noções mais urbanas e dão um tom único... “Earth Intruders” é uma das três faixas produzidas por Timbaland (além de “Innocence” e “Hope”), e a união destes opostos musicais já era esboçada há algum tempo... a ligação inicial entre eles aconteceu na admiração mútua pela música oriental, em especial a árabe... o trabalho de Mosley está bem diferente do usual e a única pista que ele dá é em “Innocence”... mais dançante e com os mesmos ruídos que você ouve por ai nas músicas de Shakira, Beyonce, Britney... mas estamos falando de Timbaland e Bjork... isso basta...

Björk – “Earth Intruders”




O conceito de “Volta” transborda nas mixagens e transições entre as faixas... abre com o som de uma marcha em “Earth Intruders” que descamba como uma sinfonia de buzinas marítimas de navios que soam como o canto de gigantescas baleias mecânicas... o som de espera em um telefone com um clima de praia, porto... além de ondas e pesadas orquestrações... essa sensação permanece por todo álbum... a urgência em lançar esse disco surgiu depois que Björk e seu marido, o diretor Matthew Barney, fizeram uma viagem de barco e passaram um tempo na Tunísia, Caribe e Flórida... em 2006 ela atuou como embaixadora da UNICEF, e visitou boa parte da área devastada pelo tsunami na Indonésia (todos elementos que parecem montar o quebra-cabeça da forte presença da água no disco)... desde então ela já tinha idéias para uma meia dúzia de novas letras e composições.... nascia o “Volta”...

Além de Timbaland, vários outros convidados emprestam seus talentos no disco... Antony Hegarty (do grupo Antony and the Johnsons), o grupo congolense Konono No 1 (que se apresentou no Brasil ano passado), a chinesa Min Xiao-Fen, do Mali veio Tounami Diabaté e assim vai...


:: Mas salvar o mundo deve ser um saco... e nem tudo é paz e amor…. se você acha que só os clipes da Björk são diferentes e inesperados... precisa ver seu comportamento em algumas entrevistas....




… “talvez fosse o jetlag”…

Esse texto faz parte da 7º Combo (e o frio islandês chega na cidade de Lynch...), publicado dia 01/06/07 e que você pode ler na íntegra clicando aqui