06 maio 2007

coooombo

buenas...

Parte do conteúdo da quarta edição da Combo (minha coluna no descubra curitiba)... textinho sobre o Charme Chulo e Supercordas...

:: plantas e lamentos nas caixas de som ::

Mesmo que o tema “rural” esteja presente no conceito destas duas bandas, elas não tem nada a ver... a não ser a pegada pop. Os curitibanos do Charme Chulo vêm rascunhando desde 2004 um relativo reconhecimento, enquanto os cariocas do Supercordas já trilham diferentes caminhos... de terra.

Lembro que a primeira vez que assisti um show do Charme Chulo, no Festival De Inverno de 2004 (não tenho certeza... aquele que foi no Cine), achei interessante as levadas da viola, porém a banda ainda se mostrava “verde” e descontínua mas....

... acaba de ser lançado seu primeiro disco, que leva o nome do grupo e mostra certa unidade no som. Aprenderam a usar a viola como o verdadeiro trunfo e por incrível que pareça chega a chamar mais atenção do que as cambaleantes e mecânicas danças que o vocalista Igor Filus despeja no palco durante as apresentações.

O disco parece traçar a chegada na grande cidade, ou o caminho inverso. O amadurecimento e seus riscos. O início carrega uma inocência explícita nas letras de “Mazzaropi Incriminado”, o hit “Polaca Azeda” e a mais que nostálgica “A Caminho das Luzes Essa Noite” (de onde veio o verso que está no título da coluna... “melancolia do néon”). Funciona em alguns aspectos, mas em outros não convence. Como na composição “Amor de Boteco” que – tenho medo que seja intencional - descamba para um sertanejo meio brega, triste, triste... Não tem como ouvir versos do tipo “Nossas diferenças se vão, no quarto ou naquele colchão”, sem lembrar de Leandro & Leonardo... (“... é que nossas diferenças se acabam no quarto, em cima da cama...”).

“Não Deixa a Vida Te Levar” já instaura uma nova fase. Desta vez a crise deixa de ser amorosa, atinge campos existenciais e a letra é uma das mais “curitibanas” do álbum. A levada oitentista se encaixa com a sanfona que surge no final... e tudo fica bem. A partir daí o clima “maduro” na forma de encarar a vida toma conta das letras, mas traz algumas referências religiosas meio aleatórias, como em “Romaria dos Desvalidos” que apesar disso tem um dos melhores arranjos do disco. Mesmo esquema de “Intriga de Cinco Pessoas” – uma das mais bacanas – que mistura os estilos na medida...





Enquanto isso Supercordas vive em um universo paralelo atemporal, verde e pegajoso… mas com as graças da Bizz, MTV, Trama e até da Capricho... (além de todo aquele bla bla bla para mostrar como a banda está boa – e realmente está)

Eu aprendi a gostar da psicodelia faz pouco tempo. Mas ainda tenho minhas ressalvas... Acho um saco viajar em cima de vários elementos inusitados espalhados por ai, só para criar uma “sensação” nova.... o Supercordas surpreende neste sentido. A viagem é conduzida pelos “seres verdes ao redor” e te convida para um colorido e sinestésico passeio pelo mato, pântano, brejo, mangue... onde existirem sapos, rãs, lagartos, “samambaias, animais rastejantes e anfíbios marcianos”

A ambiência usada em quase todas as faixas, utiliza ruídos e barulhinhos em locais inusitados... como se realmente estivéssemos em um matagal distorcido... Dica: ouça o disco no escuro, ou em uma estrada de noite... entre na onda de “Ricochete” deixe os versos “num caldeirão de esperas / de um ricochete no rio” ecoarem pelos cantos da mente enquanto entra a vinheta “Musgo” que ajuda na assimilação....depois de um longo silêncio na companhia de sapos de estúdio, vem a explosão de energia com “Frog Rock” deixando claro como “é tão bão ficar aqui...”, em uma levada let it bleediana que remete a uma das melhores fases dos Stones... mas com sotaque caipira...

Além de Stones, os Beach Boys, Doors, Mutantes e até a obscura The United States of America dão sua parcela de oxigênio a banda, que mesmo em faixas mais estereotipadas, como a “Mofo” – que lembra aqueles desenhos da Disney – surpreende.

A dualidade entre “Sobre o Frio”, que carrega um elegante pianão limpo e aflora a comodidade em estar... no frio, reforçado com o sentimento de “Sobre o Calor” (de onde surge a segunda referência no título de hoje, “cigarros como estrela”), só mostra como a banda se sente bem congelada no espaço-tempo... “pra não derreter / eu canto esta canção sobre o calor”... a volta a realidade (volta?) acontece no último respiro do coro de “Fotossíntese” que fecha o disco e lembra que “todo ser é planta artificial”...

O melhor é que o álbum “Seres Verdes ao Redor” é extremamente pop e acessível....em relação a todos esses ruídos que estão nas músicas, coloco aqui a resposta que o baixista Valentino deu em um comentário do YouTube... “a música acompanha os ruídos”....




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