Taiguara Chalar da Silva e a censura
Taiguara... Em uma rápida passada pelos allmusic, clickmusic e wikipedia da vida já dá para ter uma idéia de quem foi esse músico. Uruguaio, chegou ao Brasil com apenas quatro anos de idade em 1949. Passou sua infância e adolescência no Rio de Janeiro e São Paulo. Viveu um dos mais importantes períodos da música nacional e fez parte disso. Largou a faculdade de Direito, foi viver de suas canções em uma época propícia para um risco desses e sua juventude colaborou bastante para que desse certo. Como boa parte dos jovens músicos da época, participou dos festivais tradicionais, ganhou destaque nas décadas de 60 e 70 com músicas fáceis que logo caíram no gosto popular. Mais tarde se dedicou ao experimentalismo, gravou com Hermeto Pascoal, conquistou novos ares e fãs. Morou em diversos países (Inglaterra, Etiópia, França, Tanzânia) e utilizou essas referências a serviço da MPB. Na década de 80 perdeu notoriedade, gravou um disco em 1984 e somente dez anos depois voltou com um novo (e último) registro. Morreu em 1996.
Suas idas e vindas por diferentes países aconteceram graças aos auto-exílios que o músico fez. A ditadura apertava o cerco em suas composições, e ele foi um dos nomes mais censurados da época. Chegou ao ponto de colocar sua esposa como autora das músicas. Sofreu com isso, mas mesmo assim continuou adiante, estudou música em Londres, gravou um disco para o mercado gringo e voltou para passar mais alguns anos no Brasil. Mas ja era tarde e seu tempo tinha passado...
Em 2006 suas filhas começaram uma espécie de movimento virtual para agregar admiradores, músicos e jornalistas e resgatar a obra de Taiguara. Deu certo. Vários fãs entraram nas comunidades do orkut, com discussões e trocas de informações. Raras gravações surgiram, imagens de shows eram acessadas no You Tube e lentamente o músico e compositor foi retomando seu merecido espaço na história da MPB. Sua memória e mensagem voltavam a viver.
Até a última segunda-feira. Quando a censura novamente atravessou o caminho de Taiguara, e roubou do público o direito de conhecer ou relembrar sua obra. Desta vez não foi o governo militar, DOPS ou conservadores em geral que fizeram vista grossa nas letras e composições revolucionárias do músico. Agora o motivo foi estúpido, burro e mais baixo que a censura militar. O responsável por essa atitude deplorável foi um jovem executivo, namorado de uma famosa modelo e apresentadora que não gostou de ver um filme circulando por toda rede, com imagens suas colocando sargaço no calção para "aliviar" o ardor depois de uma transa na água salgada, filmada por um paparazzi nos mínimos detalhes. Artimanhas legais decidiram que os brasileiros deveriam ter o acesso ao site You Tube cortado... graças ao senhor "pentelhos-de-algas". Seriam cortadas e podadas boa parte das memórias disponibilizadas para qualquer um assistir, conhecer, se apaixonar e evoluir. Inclusive os registros de Taiguara. Durou pouco, no dia seguinte todos retomavam o acesso normal, mas deu medo. Um civil qualquer ganhou poderes de generais, coronéis e falsos presidentes, atingindo a milhões de brasileiros e levou o absurdo tema da censura de volta para as discussões em pleno 2007.
Medo nacional. Piada mundial.
Taiguara é só um nome, um músico, uma história e detalhe no meio de todo nosso desenvolvimento musical. Só um entre vários...
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